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Dora Marcia Zalcbergas: A Presidente da Comissão do Idoso

A experiência de quem carrega na honrada carteira da Ordem dos Advogados do Brasil 45 anos de luta pela cidadania só não é maior do que a alegria e o entusiasmo desta senhora advogada em falar do universo chamado Direito. O sobrenome cheio de consoantes entrega a origem lituana de Dora Marcia Zalcbergas, uma pessoa que traz do berço báltico a capacidade de convocar para si a defesa do próximo. Assim como seus antepassados atravessaram milhares de quilômetros em busca de dias melhores, Dora já rodou meio mundo para poder exercer a vocação que a fez tão respeitada no universo jurídico. Ao desembarcar no Brasil, a família Zalcbergas instalou-se em São Paulo. Anos depois mudou-se para o Rio de Janeiro e quando Dora Marcia, primogênita entre seis filhos, completou 13 anos, vieram todos para a Bahia. "Minha família se mudou pra cá após um revés econômico muito grande e Salvador sempre foi a minha base”, relembrou. Na capital baiana, enquanto descobria quais caminhos profissionais seguir, por pouco não abdicou da toga preta em nome do jaleco branco. Incentivada pela família, a jovem pensou em seguir carreira na medicina. A sua veia social, no entanto, pulsou mais forte e Dora Marcia optou pela advocacia. “Resolvi mudar para o curso de Direito, me apaixonei pela área, talvez até instintivamente e intuitivamente”. Às vésperas do vestibular, não estava muito preocupada com as provas e dias antes do exame foi brincar as quatro noites de Carnaval. A folia, pelo visto, fez bem e a jovem foi aprovada tanto na UFBA, onde iniciou o curso, quanto na Católica. “Minhas amigas que não haviam pulado o Carnaval para estudar não passaram e deixaram de falar comigo. Foi assim que comecei minha carreira no Direito”, contou sorridente. Versátil e independente, aos 16 anos, antes mesmo de entrar na faculdade, começou a trabalhar como repórter da Tribuna da Bahia. O ofício de jornalista a acompanhou durante toda a graduação, concluída na Universidade de Brasília. Na ocasião, o rígido curso da UNB ainda possuía na sua grade curricular a disciplina de Medicina Legal, de modo que Dora Marcia saiu de lá especialista em Criminologia. Na capital federal, a universitária se desdobrava entre os afazeres acadêmicos e o trabalho na redação do Correio Braziliense para poder viver no Planalto Central e realizar o sonho de se tornar advogada.  Diplomada
Até que em 1972 Dora Marcia conquistou seu objetivo. Quatro anos depois e com muita bagagem profissional retornou a Salvador. "Passei por todas as áreas da advocacia. Quando cheguei aqui, transferi minha OAB de Brasília para cá. Na época, o presidente era o Dr. Thomas Barcellar, que me acolheu de braços abertos e eu tenho uma gratidão enorme por ele”. Na sua trajetória de mulher advogada que viveu as duras penas do regime militar, não foram poucos os percalços impostos pelo preconceito, sobretudo para ela que labutou por muito tempo na esfera criminal. “Imagine eu, uma advogada recém-formada, jovenzinha, no tempo da ditadura militar advogando num meio machista”, conta ao descrever o cenário nebuloso da época. A competência e seriedade com a qual vem operando o Direito foram as arma empunhadas por Dora Marcia para se impor em meio ao machismo. “Fui muito discriminada, mas também muito respeitada pela minha credibilidade. Quando dava minha palavra que iria apresentar um réu ou um preso, cumpria rigorosamente”, diz. Ela, por sua vez, lamenta o fato da diferença de gênero ser uma barreira para o ingresso de muitas mulheres em determinados espaços advocatícios. “Durante essas quatro décadas foram poucas mulheres criminalistas que atuaram em delegacias”. De volta ao lar
Desde que voltou à sua base e foi calorosamente abraçada pela OAB-BA, a advogada tem atuado em diferentes comissões. Todas elas de cunho humanitário. Por mais de 20 anos foi membro da Comissão de Direitos Humanos, ocupou a vice-presidência da Comissão do Menor, participou da Comissão da Mulher e há cerca de cinco anos, após uma década de luta, liderou o grupo que criou a Comissão do Idoso, da qual é a atual presidente. Ela faz questão de enaltecer a importância do presidente Luiz Viana Queiroz para a criação da comissão, que ao assumir a presidência da Ordem recebeu o projeto das suas mãos e deu total apoio à iniciativa. Ela ressalta ainda a participação dos demais colegas na criação de mais esta comissão permanente da OAB-BA. “Contei com o apoio e a colaboração de diversos colegas como o decano Affonso Adilson de Castro, Misael Santana e tantos outros”, destaca. Hoje, a comissão representa a OAB-BA em órgãos como o Conselho Estadual do Idoso (CEPI) da SJDH, Conselho Municipal do Idoso (CMI) e o Conselho de Defesa da Mulher, da Prefeitura de Salvador. “Só temos a agradecer ao presidente Luiz Viana Queiroz, a vice-presidente Ana Patrícia Dantas Leão, a coordenadora das comissões Ilana Vieira Campos e ao presidente da CAAB Luiz Augusto Coutinho e demais colegas, pela confiança em nós depositada”, afirmou. Valorização
Nesse momento, Dora Marcia concentra seus esforços na luta pela valorização dos advogados idosos bem como no engajamento desses profissionais no trabalho desenvolvido pelo órgão que os representa. “Temos que trazer os cinco mil advogados idosos para terem conhecimento dessa comissão”, almeja. Além disso, ela sua a camisa e não poupa esforços para ver na prática o que está impresso no Estatuto do Idoso. O encontro de Dora Marcia com o Direito foi tão inevitável quanto o de duas pessoas caminhando sobre uma estrada reta. Sua relação com seu ofício é tão intrínseca que não há como distinguir o ser pessoal do profissional. Para ela, coerência e ética são a liga que une essas duas metades e faz um verdadeiro doutor.  “Antes de mais nada, o advogado deve primar pela sua conduta ética, profissional e familiar. Dentro da OAB, essa conduta é estipulada pelo Código de Ética, que deve ser lido e relido. E fora, ele deve ter uma conduta como regulam as leis do país”, finalizou. Mulheres da OAB-BA
Em reconhecimento à participação feminina nos trabalhos da OAB-BA, a seccional deu início a uma série de reportagens especiais contando um pouco da trajetória de vida de algumas dessas mulheres que integram a Diretoria Executiva, o Conselho Seccional, CAAB, Escola Superior de Advocacia e as diversas Comissões da Ordem. A cada semana, será publicado um perfil contando a história e a trajetória profissional dessas advogadas que têm se dedicado à luta em defesa do Direito, algo indispensável para a expansão da Justiça na sociedade. Leia os textos já publicados
Ana Patrícia Dantas Leão: primeira vice-presidente da história da OAB-BA
Daniela de Andrade Borges: A Diretora Tesoureira
Ilana Campos: A Conselheira Federal Fotos: Angelino de Jesus (OAB-BA)